Videoclipe: Dalsin, ‘Passageiro’

#RapBRASILEIRO
Assista ao videoclipe do som “Passageiro“, do rapper de São José dos Campos/SP, DALSIN. O som tem produção de Lotto e faz parte do álbum “Trëma“, disponível para download.

Ouça a faixa “Caviar & Cocaína“, com participação de FUNKERO.

Música, ideologia, discurso e estética

Por: DJ Cortecertu*

A criação e a utilização dos recursos tecnológicos movimentam a cultura através dos tempos

O uso da tecnologia na música não é nenhuma novidade. A cada dia descobrimos novas formas, releituras e apropriações recicladas em estéticas diferentes, entre outros fenômenos culturais da nossa época. A cultura do sample e do remix se mistura aos conceitos analógicos e orgânicos, fator que torna impossível definir os rumos de qualquer estilo musical. Como a tecnologia e sua utilização são frutos da ação humana, a música resultante dessa experiência representa a relação entre a bagagem cultural de cada artista e o contexto em que vive. Nada é produzido sem as influências econômicas, políticas e sociais.

Pierre Lévy

Por trás das técnicas agem e reagem ideias, projetos sociais, utopias, interesses econômicos, estratégias de poder, toda a gama dos jogos dos homens em sociedade”, conclui o filósofo francês Pierre Lévy , autor do livro Cibercultura. Segundo Lévy, as técnicas são produzidas no seio de uma cultura, e uma sociedade encontra-se condicionada (e não determinda) por suas técnicas.

Ainda na obra Cibercultura, o escritor pontua a importância do estúdio de gravação e da digitalização, fenômeno que baixou o custo do processo criativo. Sintetizadores, sequenciadores, computadores, samplers, programas para edição e mixagem, entre outros instrumentos de trabalho, possibilitaram a criação de diversas formas de música e diferentes discursos. Estúdios digitais – de diferentes proporções – estão espalhados pelos quatro cantos do mundo.

[+] Saiba mais sobre Pierre Lévy (em francês e português)

BobMarley
Bob Marley

Do ska ao reggae. Do reggae ao dancechall

No final dos anos 1950, a apropriação da tecnologia da época por uma dezena de jamaicanos, descendentes de africanos que foram escravizados, gerou um ritmo novo: um ska com andamento lento e guitarras hipnotizantes, com influências do r&b. O gênero musical foi chamado de reggae nas favelas e ruas da Jamaica.

No final dos anos 1960, Bob Marley equilibrou a música, a fé, o discurso dos direitos humanos e o amor ao próximo. Entre o final da década de 1970 e o início dos anos 1980, DJs da Jamaica recitavam suas poesias urbanas em cima de um reggae cheio de efeitos, um dub pesado e dançante, concebendo a origem estética do rap. O ideal “roots-and-culture”, proclamado por Marley (morto em 1981), Dennis Brown e Peter Tosh, entre outros, ainda prevalecia, mas a estética vinda da utilização de sintetizadores e sequenciadores, que praticamente dispensava os músicos, colocou a produção do DJ em um outro patamar.

Os anos 1980 também foram o marco para o surgimento de um discurso diferenciado no reggae. Parte da nova safra de DJs não tinha mais ligações com os conceitos da fé rastafari. Yellowman foi um dos primeiros artistas da música pop jamaicana a utilizar o peso do reggae – que passaria a ser chamado de dancehall – para mandar suas letras picantes e de duplo sentido. Em 1985, participou de “King of Rock”, disco do Run DMC.

BunnyWailer
Bunny Wailer


Anos 1980, a vez dos desbocados

A geração de cantores como Super Cat, King Kong e Tenor Saw colocou um tempero mais forte e pesado na cena pop da Jamaica e conquistou as pistas. Vendas em alta, aceitação imediata entre os mais jovens, sucesso total. Mas as novas gerações passaram a rimar sacanagem, sexo, drogas, humilhação e outros ingredientes que não cabiam na receita “roots-and-culture”.

Racha ideológico

O público ficou dividido. Houve um racha definitivo entre as gerações de artistas. Na época, Bunny Wailer, que trabalhou com Bob Marley e Peter Tosh, declarou: “Cada DJ apenas repete o que o outro faz. Você encontra 25 deles fazendo o mesmo som. Eles estão por fora. Não sabem ao menos cantar no mesmo tom da música, e isso não é bom pra imagem do reggae”.

Na década de 1990, os novos DJs estavam no ranking (Cutty Ranks, Shabba Ranks, Nardo Ranks, entre outros) e continuavam fazendo sucesso. Entretanto, os defensores do reggae “de raiz” reagiram e, mais uma vez, se apropriaram da tecnologia contemporânea para, sem perder a essência, mesclar suas ideias e sons acústicos aos conceitos da nova estética instrumental.

ShabbaRanks
Shabba Ranks

Ainda no início dos anos 1990, fazer reggae, dancehall ou ragga estava condicionado ao trabalho num estúdio digital. Mas esse fato não causou o fim do reggae tradicional. Outras variações do reggae e do dancehall foram desenvolvidas com o passar do tempo. A tecnologia e a influência cultural provocaram movimentos de ação e reação, aproximaram, geraram possibilidades e instigaram reflexões, mas também convidaram ao não-pensar. Como afirmou Pierre Lévy, uma sociedade está condicionada por suas técnicas. No meio artístico, tradições são mantidas, recicladas e ameaçadas, novas formas e discursos são criados. A música representa o pensamento de um determinado grupo, em uma determinada época, mas, a cada acorde, escolha e corte de um sample, acertando ou errando, o ser humano prova que nada é estático.

Fontes:
Cibercultura, Pierre Lévy
Folha de S.Paulo (1988)

*Matéria originalmente publicada no dia 1/3/2011, no portal BF.

Videoclipe: Poetas Modernos, ‘Estoro’

#RapBRASILEIRO
Com participação de Elly Pretoriginal (DMN) o grupo Poetas Modernos de Campinas (SP), formado por Doctor X e R. Jay  acaba de lançar o videoclipe da faixa ‘Estoro’. O som faz parte do álbum ‘Clássico’.

Opinião: O genocídio dos nossos

reaja
Por: DJ Cortecertu

Genocídio dos nossos. Exagero conceitual?

O genocídio da juventude negra é realizado de formas diferentes. A mais sangrenta e cruel está nas esquinas, becos, vielas, na geografia caótica das favelas, comunidades que têm seus barracos que desafiam a arquitetura dita formal. Foram 56 mil pessoas assassinadas em 2012, sendo 30 mil jovens entre 15 e 29 anos, destes 77% jovens negros.

Outra forma igualmente cruel, mas não tão sangrenta – pelo menos num primeiro momento – não tem pólvora, fardas, balas endereçadas, balas perdidas. Esta forma dilui os acontecimentos pela negação da realidade, pelo seu foco no fator econômico e de classe. Dizem que brancos e negros são iguais na pobreza, mesmo sabendo que os alvos pobres têm pele escura. Os jovens negros morrem, são assassinados.

Existe também a indústria tecnológica da distração, vídeos bizarros, gatinhos fofos, piadas, conversas e mais conversas instantâneas sobre as últimas febres, os últimos memes. Brancos compartilham diversão com negros, negros compartilham diversão com brancos, mantendo o discurso sobre a violência longe, mas a prática assassina não fica distante. Fica perto de quem? Os jovens negros morrem, são assassinados.

A violência é ruim para todos, por que só as mortes de jovens negros estão em evidência?

Esta pergunta é feita por brancos ditos conscientes, brancos assumidamente racistas, brancos indiferentes, entretanto, é reproduzida por uma grande parcela dos negros. A resposta pode confortar os brancos, mas, para os jovens negros, o que resta é “conforto” do “descanse em paz”.

O genocídio da juventude negra é um exagero conceitual? Não. Vamos viajar. Se liga no castelo que será montado nas linhas seguintes.

Digamos que o Estado, na impossibilidade de fazer recuar os índices de homicídios entre os de pele mais escura, resolvesse equalizar esse espectro de morte contratando milícias para executar jovens brancos. Nada pessoal, apenas uma questão de equilibrar as estatísticas e mostrar que essa ideia de genocídio da juventude negra é uma balela.

Dói, né? Que crueldade. Agora que fiz muitos sentirem o que sentimos na PELE (e me considerarem racista), espero que além de levar a sério nossa luta, entendam de verdade que toda vida tem valor.

Se sempre utilizam nossa cor, a cor negra, para impor a desigualdade e mostrar que somos inferiores, é por meio da afirmação de nossa cor e conhecimento da nossa história que reergueremos nosso orgulho, moldaremos nosso presente, mudaremos nosso futuro.

Racismo às avessas? Por favor, não sejam ignorantes.

Djneew ataca o racismo

emi

Djneew, articulista do Bocada Forte e um dos editores do blog Macacos Me Mordam, manda uma ideia forte sobre o atual debate (e a falta de debate) sobre o racismo no hip hop.

Noticia que ganhou grande repercussão nas redes sociais essa semana, a loja Farm postou a foto de uma mulher branca simbolizando Iemanjá, a campanha publicitária fez alusão ao dia de Nossa Senhora da Conceição que representou Iemanjá no sincretismo religioso ocorrido no Brasil.

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