#ÉoVale: MC Ralph & Coletivo

#ÉOVale é uma série de entrevistas produzidas pelo BF visando a divulgação do hip hop no Vale do Paraíba (SP), onde a cultura vem aumentando principalmente no cenário rap. Com qualidade e diversificação musical, grupos e MCs que surgiram e estão surgindo, levam adiante suas mensagens e idéias.

Capa0Nesta primeira entrevista, trocamos uma ideia com um dos primeiros nomes oriundos do Vale do Paraíba. Jornalista, pesquisador musical e compositor, MC RALPH está na caminhada desde 1999 e trás sete discos lançados. Conhecido pelas Batalhas de Freestyle, foi campeão da Batalha de MCs do primeiro Prêmio Hutuz. Lançou a mixtape comemorativa a sua caminhada, intitulada de  “15 de Rap, 30 de Vida”, com participações de diversos nomes da cena. Além destes trabalhos, Ralph faz parte do Coletivo, onde se apresenta na companhia de DJ e banda, com uma nova roupagem, deixando de lado o velho paradigma do rap.

Bocada Forte: Este ano você disponibilizou a mixtape “15 de Rap e 30 de Vida”, com abordagem de diversos temas como religião, natureza, família entre outros. Como foi a compilação deste trabalho, desde a escolha das participações até sua compilação?
Ralph: Foram músicas lançadas de 2005 (mix tape no fundo do baú) até 2014 (música inédita RAP…) passando pelos 5 discos q lancei nesse período então cada música tem sua importância… Sua história… E nessa coletânea escolhemos as mais significativas no nosso ponto de vista passamos umas peneira e separamos 15 pra essa coletânea “15 de  Rap”.



mc_ralphBocada Forte : No que consiste o seu Afrorap?
Ralph: É um disco de rap com influência da cultura afro-brasileira dos Orixás todas as músicas tratam de uma força… De uma energia ancestral… E trabalham um pouco o esclarecimento sobre o sincretismo que existe. Por exemplo… Oxum, sincretizada com Nossa Senhora Aparecida, etc.

Bocada Forte : Recentemente você anunciou um novo projeto, intitulado “Coletivo”, nos fale um pouco sobre.
Ralph: O Coletivo foi uma idéia que surgiu para expandir as fronteiras do trabalho que desenvolvi durante estes 15 anos de caminhada no rap. A intenção é fazer um som mais orgânico unindo batidas de rap com alguns instrumentistas trazendo uma nova cara. Uma cara mais coletiva mesmo. Tem sido muito positivo fazer os sons nessa nova estrutura; porque a presença da banda acaba trazendo um sentimento mais vivo para os sons. Fora isso a intenção é ir agregando elementos ao Coletivo. Extrapolar os limites do som, intervir também através do graffiti e de outras áreas da cultura urbana. Estamos vivos! Nos reciclando, atualizando nossa maneira de expressão, pra que nunca falte inspiração. A parada das camisetas na cara surgiu naturalmente por causa da música 2081. Um som que eu canto acapella e que é uma mensagem com um caráter quase profético e que eu fui um aparelho somente nessa transmissão. Então me sinto melhor pra transmitir essa idéia desse jeito. Impessoal. Porque não veio da minha personalidade essa mensagem. Acredito nisso. E através disso percebemos que a camiseta na cara ali no início das apresentações e na divulgação do projeto, transmite esse sentimento de protesto mas também de sufocar um pouco o ego, sair um pouco das personalidades, do individualismo; fortalecendo o Coletivo. E uma influência direta também da música “Instinto Coletivo” da banda o Rappa e do Marcelo Yuka. Fundamentais na nossa educação musical.

Bocada Forte: Você acha que hoje, o Rap com banda atrai mais público do que o famoso “bumbo e caixa”?
Ralph: Não. Na real não acho isso do público. É relativo. A questão é mais de sonoridade do que de visibilidade mesmo. No meu ponto de vista.

Bocada Forte – As músicas nas apresentações do Coletivo, são um misto de vários artistas ou composições próprias?
Ralph:  Tudo composições minhas. Meus raps, mas com outra roupagem. Novas versões para “velhas canções”.

Bocada Forte: Quem literalmente faz parte desse “Coletivo”
Ralph: Na verdade não estamos dando muito nome aos membros porque a ideia é ir saindo das personalidades mesmo. Temos uma formação fazendo algumas apresentações; mas quando formos gravar estamos estudando já novos membros que agregam na musicalidade. Fora isso, tem a história das participações; cada participação acaba virando uma parte do Coletivo. Na última apresentação já tivemos um grafiteiro envolvido. A parada é bem viva, está nascendo, se desenvolvendo.

Bocada Forte: Projetos futuros com o Coletivo?
Ralph: Trabalhar junto com a rapaziada nas músicas novas e seguir fazendo as apresentações. Agora em dezembro lançaremos um vídeo de uma música inédita e provavelmente em Janeiro mais um vídeo de outro som inédito. Já preparando o lançamento de um EP pro primeiro trimestre de 2015.

Bocada Forte: Nesses 15 de Rap e 30 de vida, o que foi agregado pro Ralph como pessoa?
Ralph: Tudo! o Rap é um dos maiores responsáveis pra minha formação como pessoa. Não tem como colocar em palavras o papel que a cultura hip hop tem na formação da nossa consciência. Só me resta agradecer todos os professores e fazer o meu melhor pra contribuir pra molecada e pra quem estiver na escuta e agradecer ao BF, que assim como eu, tá aí desde 1999, exercendo seu papel dentro do movimento. Levando informação e estimulando o conhecimento.

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Videoclipe: Haikaiss, ‘Infame (II)’

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Assista ao videoclipe e baixe o som “Infame (II)”, do grupo de rap HAISKAISS, com participações dos MCs SHAW e SANDRÃO (RZO). O som tem produção de Neo Beats. O filme tem direção de Renato Lucena e Luciano Maekawa.

EP Completo: PRhyme, ‘PRhyme’

IMGAcabou de sair e você escuta primeiro no #BF! “PRhyme EP“, da dupla ROYCE DA 5’9″ & DJ PREMIER, está disponível em streaming no site First Listen. Disco vem com participações dos rappers Mac Miller, CommonJay Electronica, Schoolboy Q e mais.

Track List:
1. PHryme
2. Dat Sound Good (Feat. Ab-Soul and Mac Miller)
3. U Looz
4. You Should Know (Feat. Dwele)
5. Courtesy
6. Wishin’ (Feat. Common)
7. To Me, To You (Feat. Jay Electronica)
8. Underground Kings (Feat. Schoolboy Q and Killer Mike)
9. Microphone Preem (Feat. Slaughterhouse)

Videoclipe: Rael, ‘Envolvidão’

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Confira o videoclipe da música “Envolvidão“, do MC e cantor RAEL. O som faz parte do EP “Diversoficando” (download no link abaixo). O fime tem produção da Vira Lata Produções, com participação da atriz Valeska Reis e direção de Rodrigo Zanchini.

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O hip hop na lente de Pedro Gomes

Com olhar crítico, diretor de  ‘Marco Zero do Hip Hop’ ajuda a recontar as histórias da cultura de rua

Pedro01Pedro Gomes, diretor e roteirista da zona sul de São Paulo, conhecido no hip hop por trabalhos como filme “Freestyle – Um Estilo de Vida“, e videoclipes para os artistas dos grupos Pentágono e Gueto Organizado, entre outros, como tantos seres que pensam o hip hop, já ficou decepcionado com a cultura de rua e tentou abandonar o movimento, mas não conseguiu. O diretor segue trabalhando e divulgando seus mais recentes registros: a gravação do show do GZA, do Wu-Tang Clan, com Edi Rock, dos Racionais MC’s, e o documentário ‘Marco Zero do Hip Hop‘.

Conversamos com Pedro Gomes sobre todo o processo de criação do ‘Marco Zero do Hip Hop’. Além de falar da importância deste registro histórico, o diretor abordou temas espinhosos. A falta de compromisso com a cultura de rua é um deles. “A geração retratada no documentário deu frutos. De repente, a minha geração, se posso me identificar com os mais novos, não deu frutos. Você pega esses grupos de rap novos, digamos grupos pós-Projota, pós-Emicida, pós-Rashid, esses meninos novos não sabem nada, não conhecem nada, não sabem quem é ninguém, não conhecem sequer Racionais. Ou seja, a próxima geração saberá menos ainda“, afirma Gomes. Leia a entrevista exclusiva que produtor de ‘Marco Zero do Hip Hop’ concedeu ao Bocada Forte.

Bocada Forte: Nesse mundão onde a maioria olha apenas para o futuro e para a ideia modernidade, o que lhe fez olhar para o passado e contar essa parte da história do hip hop?
Pedro Gomes: Eu tenho uma sedução por história. Gosto de conhecer as raízes pra saber se essa árvore vai dar fruto mesmo. Eu tenho um projeto aí, pretendo falar sobre os discos que fizeram história no rap nacional, contar um pouco dos bastidores e como estes trabalhos foram feitosNeste caso específico do documentário, foi a própria Secretaria da Cultura Municipal que entrou em contato comigo para eu fazer um registro, eles [integrantes da secretaria] pediram algo bem simples, só pra passar no telão no dia da inauguração da pedra, o marco inicial do hip hop de São Paulo. Isso rolou no dia 26 de outubro. Eu tinha a possibilidade de fazer aquele mero registro que pediram, mas preferi pegar a grana que me repassaram e fazer um documentário.

Bocada Forte: Foi muito difícil reunir as personagens?
Pedro Gomes: Foi difícil “equalizar” as agendas. Tinha muita gente que que eu queria que participasse do documentário, mas não rolou, pois os caras não tinham data. Alguns das antigas estão fora do país, outros já morreram, infelizmente. Estou falando de uns manos da época de 1981, 1982, 1983. Entre os artistas mais novos que eu queria que participassem, muitos não tinham espaço na agenda também. Eu tinha um prazo pra entregar o filme, que era o dia da inauguração. Eu tinha que correr.

Falei com o Nelson Triunfo, ele foi o capitão disso tudo. Ele que brigou pela pedra, ele que fez as reuniões com a Secretaria de Cultura. Nelsão sugeriu uma lista de nomes para o documentário. Eu trabalhei em cima desta lista, adicionei outros nomes e passei para a produtora, um time de profissionais que montei para fazer o trabalho, oito pessoas.

Pedro02Tivemos dois dias de filmagem de entrevistas apenas. Eu tive que ter a sorte de encontrar uma galera disponível nestes dois dias. Fiquei feliz,  pois tive a sorte de entrevistar um representante de cada estilo. Se você parar pra pensar, Nelsão, Rooney, Pepeu, Jack, Alan Beat, representam os diferentes elementos do hip hop. Também tentei falar com DJ Hum, Thaide e KL Jay mas não tinha como entrevistá-los na época, cada um estava com seus corres. Quem sabe posso ter outra oportunidade quando transformar o projeto em um longa-metragem. Muita gente falou que tinha pouco tempo, mas pra fazer algo maior custa uma grana também.

Bocada Forte: Com o material gravado, como você conseguiu alinhar o trabalho e traçar o fio condutor da história?
Pedro Gomes: Aí temos dois méritos: uma pré-produção bem feita e o fato do documentário ser feito por uma pessoa que, além de apaixonada pelo hip hop, é integrante do movimento. Digamos que ficou menos difícil. O primeiro passo é elaborar perguntas  que se encaixam. A do Nelsão foi a entrevista guia, a primeira, a mais longa. Por exemplo: Nelsão falou sobre a perseguição da polícia, daí eu já perguntava para outro integrante do documentário sobre essa perseguição. Fazia tudo de maneira cuidadosa para não ficar repetindo muitas perguntas, acabar com muito material e o tiro sair pela culatra. Sabendo que teríamos pouco tempo na ilha de edição, fui derecionando as perguntas, mas deixando os caras livres para responder.

O segundo grande mérito é o do editor, trabalhei com o Andres, ele é um argentino jornalista e editor de filmes. Ele trasncreveu tudo e a gente foi montando o quebra-cabeça, lendo no papel e encaixando cada trecho.

Bocada Forte: Você aborda o nascimento do hip hop em São Paulo como marco fundador da cultura e do movimento no país. Cada região do Brasil tem seu “mito de origem”. Você já recebeu algum tipo de reclamação sobre as afirmações do seu documentário?
Pedro Gomes: Diretamente não, mas eu sei que este é um temor que paira no ar. O Rooney toma muito cuidado. Ele já entrou num debate com uma galera no Facebook, está lá. Por isso que fiz questão de colocar no release do documentário: precursores do movimento em São Paulo. Não ousei falar nada de âmbito nacional. É que o Nelsão falou algo no início do filme e uma galera interpretou mal, pegou mal. Mas estou bem tranquilo, não me apego muito a essas paradas.

Se o cara falou: ‘mano, o movimento começou aqui em Recife, a gente começou antes de vocês, o grupo X começou antes do grupo Y, temos mais história’. Temos coisas mais importantes pra ficar com este tipo de discussão entre nós mesmos. Levando essa parada pra um contexto maior, essa discussão foi uma das coisas que travaram o rap na década de 90. Não me apego a essas coisas. História, cada um lembra de um jeito, com pontos de vista diferentes.

Bocada Forte: Você acha que o hip hop ainda tem a mesma força social, política e de entretenimento que teve antes?
Pedro Gomes: A internet mudou o mundo, mudou o jeito como a gente vê as coisas. Ofereceu novas oportunidades pra molecada, novos caminhos. Antes tínhamos o rap, tínhamos o samba, mas o samba já era o que o hip hop é hoje, mais comercial. Como – no passado – o hip hop era mais vanguarda, batia de frente e possibilitava o caminho para o negro ser negro mesmo, tinha esse contexto social que mudou minha vida, por exemplo. Mas eu não sei realmente se nós mudamos, sacou?

O hip hop não mudou. O hip hop perdeu alguns soldados, algumas pessoas se afastaram, os mais antigos perderam a força, por conta da idade, por conta da família, isso é normal. De certa forma, a gente não deu frutos, a gente não gerou novos. Aí o negócio está estagnando. Na comunidade não tem mais oficinas de hip hop como tinha antes, é fato, contra isso não existe argumentos. O funk [Pedro se refere ao “funk carioca”] chegou chegando. O rap, a música do hip hop, está cada vez mais parecido com o funk, é fato, no sentido de ser menos parecido com o que o era.

Temos grandes defeitos, um deles foi ter mudado radicalmente, virou da água pro vinho, de uma hora pra outra. A gente era revolucionário até ontem, hoje a gente é programa da Xuxa. É só um exemplo. Isso não rola, não deveria ter sido assim. Nos EUA veio rolando uma transição e, atualmente, diferentes estilos se dão bem, os caras se cumprimentam, estão tranquilos e o público entende isso. Aqui foi de uma hora pra outra. Tudo que é de uma hora pra outra é difícil de ser assimilado.Pedro

A geração retratada no documentário deu frutos. De repente, a minha geração, se posso me identificar com os mais novos, não deu frutos. Você pega esses grupos de rap novos, digamos grupos pós-Projota, pós-Emicida, pós-Rashid, esses meninos novos não sabem nada, não conhecem nada, não sabem quem são ninguém, não conhecem sequer Racionais. Ou seja, a próxima geração saberá menos ainda.

É necessário fazer esse trabalho de base, esse trabalho de raiz. Por exemplo, é necessário que o Bocada Forte volte e conte essa história pra galera. Estes blogs de hoje também não sabem, não contam nossa história pra galera. Sacou? A gente precisa formar essa galera, ensinar a respeitar as raízes e saber que uma manifestação cultural pode mudar a vida de uma pessoa. Não mudar a vida no sentido do boyzinho, branquinho e rebelde que deixou a casa dos pais. Não é isso.

O hip hop mudou minha vida por me fazer descobrir que posso fazer uma faculdade, por me mostrar que sou negro. Mudou minha vida por me mostrar novos caminhos. Infelizmente, isso a nova geração não faz. Admiro o Emicida, o Criolo, artistas que respeitam os mais velhos. O Criolo viveu a parada, diferente destes outros moleques, que não me soam tão hip hop assim. Aí a gente entra naquele debate que fala da diferença entre um rapper e um MC. Daqui pra frente vai ter tanto rapper, mas tanto rapper, que vai ser fácil mostrar a diferença entre um Parteum, um Kamau, e esses rappers.

Agora estamos no meio do problema. Imagine sua casa sendo invadida pela água, a chuva não parou ainda. Sua esposa pergunta: ‘o que a gente perdeu’. Você responde: ‘não dá pra saber agora. Corre, junta as coisas, quando o sol sair, a gente vai saber o que perdeu’. Estamos no meio da tempestade, se eu não lutar por isso que estou falando, as perdas serão gigantescas. Só que a gente só vai ver mais na frente.

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07/12: Festival Batuque 2014

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O festival anual, voltado à black music em suas mais variadas facetas, expressões e tendências, chega em sua quinta edição.

A atração estrangeira desse ano é a cultuada cantora norte-americana Santigold. Parceira de ícones como Pharrel, GZA (Wu-Tang Clan) e Beastie Boys, entre muitos outros, se apresenta em ambas as noites.

No sábado (06/12), a brasileira Céu encerra a programação, com um show dedicado ao disco “Catch A Fire”, de Bob Marley & The Wailers. Completando o programa, o trio de hip hop Elo Da Corrente faz show baseado no aclamado álbum “Cruz”, acompanhados por integrantes do Bixiga 70. E mais: Ordem Natural, novo trabalho de remanescentes do coletivo Quinto Andar, e o 5 Pra 1, que conta com o beatmaker/MC Renam Saman e o Dj Will, filho de KL Jay (Racionais MC’s), em sua formação.

No domingo (07/12), quem fecha o evento é a entidade pernambucana Nação Zumbi. Pioneira do mangue beat, a banda vive sua fase mais popular desde a perda do frontman Chico Science, e apresenta material do novo disco. Além deles, tocam também Zulumbi, apresentando seu festejado trabalho de estréia, acompanhados por integrantes do Hurtmold. A cantora Anelis Assumpção mostra seu novíssimo álbum, “Amigos Imaginários”, à frente da banda de mesmo nome, e a revelação Tássia Reis abre os trabalhos. O MC Espião e o DJ Nato PK conduzem a festa durante todo o fim de semana.

Haverá um serviço de van gratuito para fazer o translado entre a Estação da CPTM Prefeito Celso Daniel – Santo André ao Sesc, das 16h à 00h. Saída: Rua Itambé (lado oeste da Estação), no recuo de embarque e desembarque. Basta apresentar o ingresso*.

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*Venda limitada a 2 ingressos por pessoa e apresentação será no Espaço de Eventos.

06/12: Pixação em debate no CCJ

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O filme “Pixadores“, do diretor Amir Escandari, traz a questão da pixação como sendo uma das formas de expressão cultural originária das ruas de São Paulo. Pixadores é uma história de jovens como Djan, Willian, Biscoito e Ricardo, que se encontram desempregados e realizam trabalhos alternativos para sustentar suas famílias.

As histórias desses jovens mudam quando são convidados para realizar algumas oficinas na 7º Bienal de Berlim. Eles se deparam com uma desafiadora cultura e realidade local. O choque cultural e a subversão da ordem também são desafiados na Europa. Esses jovens nunca antes haviam saído do Brasil, e reproduzindo a realidade de São Paulo, farão suas pixações pela Alemanha em um processo de contracultura.

Após a exibição do filme haverá um debate com Amir Escandari, diretor do filme, Sergio Franco, co-curador da Bienal de Berlin, Djan, pixador da grife Os Mais Fortes e Juca Ferreira, Secretário Municipal de Cultura.

Serviço
Dia 6/12, sábado, 18h. Anfiteatro.
Não recomendado para menores de 12 anos. 150 lugares. Não é necessário retirar ingresso.

 

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O hip hop de MT está em luto

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Lourival Júnior, DJ Kabeção, faleceu na segunda-feira, dia 17

Por: Cezza StyloUrbano

Do município de Rondonópolis, um dos percussores do movimento hip hop do Mato Grosso, DJ Kabeção começou sua trajetória dançando funk, formou o grupo Selvagens do Funk, que logo em seguida viria a se tornar Selvagens do Guetto, o primeiro grupo de rap de Rondonópolis. Em 2006, montou e articulou o grupo De Monstro, com a junção de quatro grupos da cidade.

DJ Kabeção se preparava para um concurso de DJ do Distrito Federal, mas foi internado para um transplante de fígado, na Santa Casa de Rondonópolis. O artista não resistiu a operação e veio falecer às 18h do dia 17 de novembro.

O hip hop de Mato Grosso e nacional perdeu um grande guerreiro, artista que dedicou boa parte da sua vida ao aprendizado e formação de vários adeptos.

DJ Kabeção, esteja com Deus, aqui no Mato Grosso você sempre será eterno vai.

KRS-One: os 9 elementos da cultura hip hop

Por: KRS-ONE e SPENSY PIMENTEL

Nova York, 21 de maio de 2006

As redefinições [N.T.: KRS-One refere-se a ´refinitions`, um termo criado por ele, unindo as palavras redefinições e definições] que irei apresentar são uma coleção realizada pela organização Temple of Hip Hop (Templo do Hip Hop) dos termos culturais e códigos do hip hop, desenhados para proteger, preservar e estabelecer um Espírito comum para o hip hop e aumentar a auto-estima dos verdadeiros hiphoppers. Outras organizações da cultura podem praticar um diferente conjunto de elementos e termos. Contudo, nossas redefinições permanecem como uma ferramenta fundamental de ensino. Através desse ‘corpus de conhecimento’ nós promovemos nossa auto-estima como especialistas culturais do hip hop.

BREAKING (estudo e aplicação das formas de dança de rua)
Comumente chamado de Break Dancing ou B-Boying, ele agora inclui formas de dança que já foram independentes: Up-Rockin, Poppin e Lockin, Jailhouse ou Slap-Boxing, Double Dutch, Electric Boogie e a arte marcial da capoeira. Também se refere comumente a uma dança de rua de estilo livre (freestyle). Os praticantes do Breaking tradicional são chamados B-Boys, B-Girls ou Breakers. Os movimentos do Breaking são comumente usados em aeróbica e outros exercícios que refinam o corpo e aliviam o estresse. Dança e outros movimentos corporais rítmicos aparecem na gênese da consciência humana. A dança também é uma forma de comunicação.

Rakim
Rakim

MCING (estudo e aplicação da fala rítmica, poesia e/ou discurso divino)
Comumente referido como rappin ou rap. Seus praticantes são conhecidos como MCs (Emcees) ou rappers. O MC é um poeta do hip-hop, que direciona e move a multidão rimando ritmicamente na palavra falada. O MC é um porta-voz. Tecnicamente, o MC é uma criação da sua comunidade, enquanto o rapper é uma criação das grandes corporações e gravadoras. A palavra MC vem da forma abreviada de Mestre de Cerimônias. Em seu sentido tradicional, MC se referia ao anfitrião de um evento, o mestre de uma cerimônia ou festa. Em seu sentido antigo, o MC buscava rezar ou se comunicar com Deus. Era usado pelos gregos para comunicar-se com seus oráculos e rezar para seus deuses. As mais antigas formas de MCing foram feitas pelos antigos pastores, sábios e filósofos da África e da Ásia. Mais tarde, na história, essa antiga arte seria praticada pelos griots africanos e djelis, que iam de vila em vila ensinando (ou melhor, encenando) história e importantes lições de vida aos mais jovens.

[N.T.: Nas palavras da amiga Luciane Ramos Silva, antropóloga versadíssima em História da África: “djeli é o/a responsável pela transmissão das tradições orais – genealogias, estórias, costumes e éticas. São como senhores da palavra. Em geral, esse saber é transmitido através das gerações, então existem famílias com “sobrenomes” de griots (outra forma de designá-los, neste caso, termo em francês). Por exemplo, o ator Sotigui Kouyaté, que faleceu ano passado, e foi por muito tempo da Cia do Peter BRooke, era um djeli. O filho dele, Hassane Kassi Kouyaté, está em Sampa (Sesc Ipiranga) fazendo um trampo que navega entre palavra, corpo, tempo e espaço. Bom, mas essa é outra história. Tenho poucas referências de djelis mulheres. Mas há uma, Yandé Codou, que foi a griotte do Senghor, primeiro presidente do Senegal. Há um documentário sobre ela.”]

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Chuck D (Public Enemy)

O MCing (ou discurso ritmado/a fala divina) também aparece na gênese da consciência humana. É a linguagem do coração. Os primeiros hiphoppers transformaram a figura tradicional do Mestre de Cerimônias para incluir formas de participação da multidão e poesia. Hoje, o MC procura ser um mestre da palavra falada, não apenas o melhor rapper ou poeta. O MCing, se entendido da maneira apropriada, manipula o ar através da vibração sonora numa tentativa de alterar ou expandir a consciência. Os MCs também ministram palestras e outras formas de instrução pública. A maioria dos MCs se avaliam conforme sua habilidade de agitar uma festa/evento, falar claramente e/ou contar uma boa história.

Saiba isso: um MC talentoso quase sempre se torna um rapper respeitado, mas um rapper talentoso normalmente nunca se torna um MC respeitado. O MC se expressa através da rima que já está em sua mente, enquanto o rapper te conta tudo sobre ele mesmo. Verdadeiros MCs devem estudar ambos os estilos para ter o máximo do sucesso.

A arte do MCing foi popularizada por pessoas como Cab Calloway, Coke La Rock, Pebblie Poo, Sha Rock, Chief Rocker Busy Bee, Keith Cowboy, Melle Mel, Grandmaster Caz, Rakim, KRS-OneQueen Lisa Lee, Slick Rick, Big Daddy Kane, MC Lyte, Muhammad Ali, e outros.

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Graffiteiro Phase 2

GRAFFITI ART (estudo e aplicação da caligrafia de rua, arte e escrita à mão)
Comumente chamada de arte do aerosol, writing, piecing, burning, graff [N.T.: write: escrever; piece: peça; burn: queimar] ou murais urbanos. Outras formas dessa arte incluem bombing e tagging [N.T.: o tag pode ser considerado o irmão mais velho da pichação brasileira]. Seus praticantes são conhecidos como escritores, escritores de graffiti, artistas do aerosol, grafiteiros ou artistas do graffiti. [N.T.: para melhor entendimento das diferenças entre os termos, recomendo os seguintes sites: terminologia do graffiti; a arte do graffiti].

Também na gênese da consciência humana, escrever em muros, árvores, pedras, roupas etc. tem um papel importante no desenvolvimento da inteligência humana e da auto-expressão. A maioria das crianças do gueto instintivamente aprende a escrever praticando nos muros. Os antigos humanos, dos tempos pré-históricos, punham certamente suco de frutas [berry] em suas bocas e sopravam ou cuspiam suas imagens em paredes de cavernas, às vezes em total escuridão, da mesma forma como os modernos grafiteiros dos anos 70 ou 80 fariam com suas latas de spray nos trens suburbanos.

Hoje, os graffiteiros procuram ser mestres da escrita à mão e da arte. Os artistas do graffiti se avaliam conforme sua habilidade de escrever e/ou contar uma boa história. Muitos se tornaram artistas gráficos, designers de moda, fotógrafos, diretores de arte e de cinema.

Saiba isso: o graffiti como arte não é vandalismo! Tradicionalmente, a palavra graffiti se originou do termo ´graffito`, significando um risco. Daí sua conexão com a arte dos DJs (o grafiteiro é um DJ visual). Assim, o graffiti foi um termo dado à arte gráfica do hip-hop, quando ela aparecia legal e ilegalmente em propriedade privadas e públicas como um ato de protesto social (especialmente em trens de subúrbio). Da mesma forma que o MCing foi rotulado de rap e o Breaking foi rotulado break dancing, o graffiti foi o rótulo para designar o writing, bombing, piecing, burning e tagging.

O escrito ou desenho do graffiti é cuidadosamente desenhado, riscado, ou espirrado sobre uma superfície e foi popularizado por pessoas como Taki 183, Phase 2 (foto), Stay High 149, Kase 2, Lee, Chico, Cope 2, TATs Cru, Presweet, Iz the Wiz, Seen, Quik, O.E., Revolt, Dondi, Zephyr, Futura 2000, entre outros.

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O pioneiro DJ Kool Herc

DJING (estudo e aplicação da produção da música rap e difusão por rádio)
Comumente se refere ao trabalho de um disc jockey. Contudo, o disc jockey do hip-hop não toca simplesmente discos de vinil, fitas e CDs. Os deejays do hip-hop/rap interagem artisticamente com a execução de uma canção gravada, cortando, mixando e riscando a canção em todos os seus formatos gravados. Mesmo além da música e outras formas de entretenimento, o DJing, como um conhecimento consciente, não apenas inspira nosso estilo de instrumentação musical, mas também expressa o desejo e a habilidade para criar, modificar e/ou tranformar a tecnologia musical. Seus praticantes são conhecidos como turntablistas, deejays, mixologistas, grandmasters, mixmasters, jammasters, e funkmasters.

Assim, o Disc Jockey pode ser considerado um apresentador de música gravada e foi popularizado por pessoas como El Marko, DJ Kool Herc (foto), Afrika Bambaataa (foto), Jazzy Jay, Grand Master Flash, Grand Wizard Theodore, Kool DJ Red Alert, DJ Cash Money, Marley Marl, Brucie B, Chuck Chillout, Kid Capri, Afrika Islam, Jam Master Jay, entre outros.

BEATBOXING (estudo e aplicação da música corporal – body music)
Comumente se refere ao ato de criar sons rítimicos com várias partes do corpo, particulamente a garganta, boca e mãos. Seus praticantes são conhecidos como ‘Caixas de Ritmo Humanas’ (Human Beatboxes) ou Orquestras Humanas. Assim, o Beatboxing é, basicamente, usar o corpo como um instrumento. Versões mais antigas dessa expressão incluem o Handbone ou Hambone. Contudo, o moderno Beatboxing se origina do ato de imitar as primeiras baterias eletrônicas (drum machines). As primeiras baterias eletrônicas foram algumas das ‘caixas de batida’ originais e, engenhosamente imitá-las, foi o que primeiro se chamou Beatboxing. Contudo o antigo Beatboxing era a habilidade de imitar os sons da natureza com as próprias partes do corpo.

O Beatboxing não é apenas uma forma de comunicação, é também achado na gênese da consciência humana. De fato, imitar os sons da natureza (ou do ambiente natural de alguém) é algo que está no início da comunicação humana, do conhecimento e sobrevivência. Popularizado por Doug E. Fresh, Biz Markie, The Fat Boyz, DMX, Greg Nice, Bobby McFerrin, Emanon, Click the Super Latin, K-Love, Rahzel, entre outros.

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Malcolm X

CONHECIMENTO DE RUA (estudo e aplicação da sabedoria ancestral)
Comumente se refere ao senso comum básico e a sabedoria acumulada das famílias do gueto. Consiste de técnicas, frases, códigos e termos usados para sobreviver no gueto. Envolve também a habilidade de raciocinar lógicamente com ou sem as ideias ou a validação do mainstream acadêmico tradicional. A sabedoria de rua é a acumulação do auto-conhecimento cultural do hip hop. Seus praticantes são conhecidos como hiphoppers, bem como sisters, brothers, goddesses, gods, mothers, fathers, teachers, queens, kings, princesses, princes, lords e divine (em português: irmãs, irmãos, deusas, deuses, mães, pais, professores, rainhas, reis, princesas, príncipes, lordes e divinos/divindades).

Contra o mito de que o conhecimento só é acumulado em ambientes acadêmicos quietos e ordenados, muito do conhecimento comunitário do hip hop pode ser achado em seus comediantes, poetas e autores. Os hiphoppers aprendem e transferem conhecimento através da diversão, no entretenimento. A sabedoria de rua é o conhecimento de como sobreviver na vida urbana moderna.

Popularizada por Malcolm X (foto), Dr. Cornell West, Martin Lawrence, Afrika Bambaataa, KRS-OneClarence 13X, Ministro Louis Farrakhan, Kwame Toure, Chuck D, Nas, Dick Gregory, Chris Rock, Tupac Shakur, The Wayans Brothers, Sista Souljah, entre muitos outros.

LINGUAGEM DE RUA (estudo e aplicação da comunicação de rua)
Comumente referida como inglês negro, jargão/dialeto urbano e ebonics (de ‘ebony phonics’ – sons negros/sons de ébano). É a linguagem do hip hop e os códigos linguísticos. A comunicação verbal das ruas. A linguagem de rua avançada inclui a correta pronúncia da linguagem nacional e nativa da forma como ela pertence à vida no gueto. Adicionalmente, a linguagem de rua avançada lida com a comunicação para além do que a pessoa diz. A linguagem de rua não é sempre discurso falado. A linguagem de rua do hip hop inclui, certamente, códigos de rua que podem não ser comunicados totalmente por palavras.

Pode-se dizer, ainda, que a linguagem de rua (da forma como pertence ao campo da palavra falada) é a tentativa do hip hop de se libertar do confinamento da linguagem-padrão e de pontos de vista padronizados sobre a realidade. O inglês (por exemplo) não tem suficientes palavras ou definições para descrever como nós (hiphoppers) sentimos o mundo. Isso é o que faz com que nossa linguagem (jargão/dialeto – slang – gíria) de rua seja tão importante para nossa liberdade.

A linguagem de rua ajuda os hiphoppers a interpretar seu mundo da sua própria forma e foi popularizada por Richard Pryor, Martin Lawrence, The Last Poets, Chris Rock, The Watts Poets, James Brown, Gil Scott Heron, E-40, DJ Hollywood, Lovebug Starsky, Nas, Fab 5 Freddy, Frankie Crocker, entre outros.

BlackPanthers
Membros do partido Black Panthers

MODA DE RUA (estudo e aplicação de tendências e estilos urbanos/street fashion)
Comumente se refere a tendências de roupas do gueto. Contudo, a moda de rua lida com todas as tendências e estilos da cultura hip hop. A auto-expresão através da moda de rua é um importante modo de apresentar a identidade do hip hop ao mundo. A moda de rua representa a proeminência de todos os códigos culturais do hip hop, formas e tradições. Não apenas a moda é uma forma de comunicação muito antiga, mas nossa consciência expressa era (e ainda é) também representada no modo como nos adornamos, colorimos e vestimos a nós mesmos.

Popularizada por grupos e pessoas como os The Black Spades, The Black Panthers (foto acima), as gangues de Los Angeles/CA The Crips e The Bloods, Jew Man, Ron 125th, Dapper Dan, Shirt Kings, Lugz, FUBU, Karl Kani, Sean Jean, Wu Wear, Fat Joe 560, Phat Farm, entre outros.

RusselSimons
Russell Simmons

EMPREENDEDORISMO DE RUA (estudo e aplicação do mercado justo – fair trade – e do gerenciamento dos negócios do hip hop)
Comumente referido como mercado de rua, ‘having game’, ‘the natural salesman’ ou ‘smooth diplomat’ [N.T.: obviamente, isso é linguagem de rua – não consegui encontrar o sentido em dicionários normais. Se algum leitor souber, faça a gentileza postar como comentário]. É a disposição de se engajar na criação de um empreendimento que está na raiz das práticas de negócio. Muito da aprendizagem do hip hop começa aqui.

Diferente do empreendedorismo, que pode incluir as técnicas e práticas empresariais, o empreendedorismo de que falo foca o espírito de motivação de se auto-empregar, de ser inventivo, criativo e auto-instruído [N.T.: KRS-One diferencia entrepreneurism de entrepreneurialism]. É este espírito; o espírito da auto-criação, a urgência em criar e vender seus próprios talentos, descobertas e invenções, que é encorajada por esses ensinamentos. Seus praticantes são conhecidos como ´hustlers` e ´self-starters`. Empreendedor: uma pessoa criativa automotivada, que sustenta uma iniciativa comercial.

Popularizado por pessoas como Madame C.J. Walker, Russell Simmons (Def Jam), Luther Campbell, Sean Puffy Combs (Puff Diddy), Jack the Rapper, Robert Townsend, Eazy-E, Too Short, entre outros.

*Texto originalmente extraído do blog da página oficial do MySpace de KRS-One.