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Por Yara Morais

Bocada Forte: Voltando ao início da carreira, na primeira formação do RZO, como o Rap surgiu na sua vida?
DJ Cia:
Salve!!! Então, o rap surgiu pra mim de verdade quando comecei a fazer parte dele. Isso em 1995, por aí, quando fiz parte de um grupo de Rap chamado Flash Rap Gang. Começamos a participar de campeonatos e fazer shows, nos apresentar em festas, quermesses, bailes, essas coisas.

Bocada Forte: Qual a diferença na bagagem musical da primeira formação do grupo, para a formação atual (da volta)?
DJ Cia:
Eu vejo as coisas de uma forma mais profissional hoje em dia. Posso contar com uma série de coisas que antes não tínhamos, como, por exemplo, gente profissional trabalhando com o Rap nos shows. Digo profissional no sentido de respeitar o Rap. Antigamente não éramos respeitados, o som sempre era ruim, não davam atenção aos grupos de Rap. O Rap era sempre segundo ou terceiro plano em qualquer evento. Não tínhamos pessoas preocupadas em somar com o movimento. Hoje, as pessoas enxergam pelo menos 40% mais profissional o Rap, o resto depende de cada um à sua maneira de agir e conversar com essas pessoas que se aproximam do gênero. Por exemplo, marcas. Agora você consegue dialogar e trabalhar com algumas marcas. Também tem a internet, que ajudou muito na divulgação dos trabalhos, os números nos perfis e no YouTube. Essas coisas chamaram a atenção dessas pessoas que só pensam em números. Enfim, muita coisa mudou de lá pra cá. Equipamentos para produção e softwares também estão bem mais próximos do que antes. A aproximação com alguns músicos também é um ponto alto.

Bocada Forte: Que fato mais pesou para essa volta?
DJ Cia:
A saudade já estava pesando. Saudade dos palcos, dos shows com o grupo junto, ver as pessoas cantando as músicas. E depois, pra bater o martelo mesmo, ver as pessoas postando a #voltarzo, além do convite para fazermos a Virada Cultural. Quando vi aquela multidão ir curtir o RZO em pleno domingo ao meio dia, foi como esfregar na cara um “estamos esperando vocês”. Os fãs do RZO foram fundamentais.

Bocada Forte: Sabemos que a Negra Li é um dos grandes potenciais do grupo. O que vocês acham desse espaço que as mulheres vêm conquistando no Rap?
DJ Cia:
Sim, a Negra Li tem um grande destaque. Ela se destacou como cantora e atriz, versátil e inteligente. Ela tem força e faz parte da história do RZO. O destaque das mulheres dentro do Hip Hop é mérito delas mesmas. Hoje, temos muitas meninas talentosas, que levam a sério e batem de frente. Elas agem como tem que agir uma mina do Rap. Acho muito mérito das que estão fazendo sucesso, e sempre torcemos pra que apareçam mais. Elas abrem mais espaço para o Rap e servem de incentivo para as meninas que ainda tem medo de cantar ou desenvolverem uma arte.

Bocada Forte: As letras e pensamentos do Rap tiveram modificações ao longo dos anos. Vocês acreditam que, mesmo com isso, é possível fazer sucesso com letras feitas a partir de problemas sociais, ou seja, falando da periferia, da política e, de tudo aquilo que era o foco do Rap em meados anos 90?
DJ Cia:
Não acho que os temas mudaram. Os problemas continuam os mesmos e mais estampados na cara hoje em dia. Pior antes, que ninguém divulgava os problemas. Hoje, as pessoas postam os problemas na internet, o que eu acho é que só vai falar de problemas quem vive e enxerga eles, quem tem compromisso em ver as coisas melhorarem. Mas também não acho ruim os que não falam, a arte é livre. Participei de uma conversa há alguns dias em que o assunto era a arte. Se nós vivêssemos em um país que não desse as costas para o povo, não teríamos o compromisso de fazer o papel que o governo não faz. A arte seria a arte, mas o rap é compromisso. O Rap do Brasil, pra algumas pessoas, ainda é compromisso com o povo, com o país, com o próximo, e fazer música falando desses problemas que ainda existem. Cabe a quem vê no Rap essa responsabilidade. Pra mim, o Rap tem essa obrigação de informar e alertar as pessoas que muitas vezes não tem acesso à cultura e aos seus direitos.

Bocada Forte: Existe entre vocês certo receio ou apreensão em relação aos novos Raps que estão compondo? Afinal, o sucesso da volta do RZO mostrou a força e a atualidade das músicas antigas do grupo.
DJ Cia:
Não receio, não. A gente já sabe que o povo curte o RZO daquela forma e o que queremos fazer é deixar o RZO com a mesma cara. Existem outros tipos de batidas, mas dá pra fazer essa mistura sem perder a essência do RZO.

Bocada Forte: Acham que o impacto numa nova cena com um novo público e manter parte do público formado nos anos 1990 é um imenso desafio?
DJ Cia:
O público daquela época já casou, tem filhos, não frequenta mais as festas como antes. Hoje existem outras responsabilidades, mas, mesmo assim, vi pais com seus filhos que foram nos shows que fizemos. O público novo também quer saber quem são as referências dos artistas que eles curtem, querem saber quem foram os que abriram as portas. A molecada de hoje é muito mais informada, por conta da internet que os favorece. Eles pesquisam, falam inglês, se comunicam entre eles ou com os grupos deles mesmos. Eles sabem que é importante saber quem faz parte, quem foi Sabotage, por exemplo. Quem não gostaria de ter ido no show do Public Enemy , quem não gostaria de ir a um show do NWA?!?

Bocada Forte: Qual o seu maior ídolo, tanto na vida, quanto dos palcos?
DJ Cia:
Ídolo é Deus, né? Mesmo que, às vezes, com tanta coisa na mente e a correria, deixamos até a desejar a ele. Eu, no caso… Mas depois de Deus, posso dizer que meu pai é meu ídolo porque a música veio de dentro de casa. O resto vem de música boa. Sou fã de música boa.

Bocada Forte: O que o público de vocês pode esperar desse retorno?
DJ Cia:
O RZO está voltando, estamos trabalhando para dar o que eles querem e pediram, – um RZO original com qualidade e música boa.

Bocada Forte: Como foi o primeiro show do retorno? O que cada um de vocês guardou na memória depois de subir ao palco?
DJ Cia:
Pra mim, o show da Virada Cultural. O que eu tenho na memória são aquelas pessoas cantando, chorando. Foi lindo demais, emocionante! Me emocionei também.

Bocada Forte: Uma música do RZO que mais define o RZO.
DJ Cia:
Difícil essa… Não vou arriscar.

Bocada Forte: RZO por RZO.
DJ Cia:
‘’Todos são manos. Todos são humanos!’’

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Publicado por Yara Morais

Jornalista. Pós-graduada em Ciência Política. Mãe do Yohann e fruto de Cuba.

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