A arte bastarda de Dimak

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DIMAK, rapper baiano que tem uma estrada no hip hop, já passou por grupos como Testemunhas da Periferia, com Blequimobiu, Daganja e Fall, e OQuadro, um dos mais brilhantes grupos de rap do país. O MC e grafiteiro (no graffiti desde 1996) lançou seu primeiro disco solo em 2013, trabalho homônimo com dez faixas. Recentemente, Dimak divulgou o videoclipe da música “Pés no chão“, faixa que faz parte do seu disco.

Sua inspiração é a mesma de muitos artistas da cena. “Tento expor minha visão das coisas que me cercam, principalmente do comportamento do ser humano. Como estou sempre nas ruas, faço delas meu laboratório pra compor minhas letras“, comenta Dimak durante um bate-papo com o Bocada Forte. Para o MC, o rap é a ponta de lança que surgiu pra incomodar os racistas, mesmo sabendo que muitos artistas não querem falar sobre coisas sérias.

Quando o rap surgiu, veio pra gritar sobre as coisas que estavam erradas. Depois, na segunda geração, veio manter o grito e a chama viva, mas hoje, essa terceira geração já não tem mais razão para gritar, ou gritam por coisas que não têm relevância. Isso veio com a popularidade que a cultura hip hop ganhou durante esses anos, levando alguns elementos – principalmente o rap – para outro nível. O rap ganhou qualidade, ganhou espaço, mas, em alguns casos, perdeu a força, ficou sintético, mais do mesmo. mas isso faz parte, tem que existir discrepâncias“, afirma Dimak.

O rapper também mantém uma grife independente, a Arte Bastarda, que foi citada numa matéria sobre empreendedorismo no hip hop, no jornal Correio 24 Horas. Em meio a tanto papo sobre comercialização e a necessária geração de renda, Dimak acredita que o discurso político não pode perder a força. “Existem bons MCs, capazes de fazer rap contundente com maestria, mas isso vai da postura da pessoa. O Artista precisa escolher entre em usar ou ser usado. No meu caso, gosto de rap que me faça pensar“, conclui.

Suicídios se espalham entre povo indígena no Brasil

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Por Charles Lyons, no The New York Times

Amigos e familiares se reuniram em torno do corpo inerte de um menino de 15 anos de idade, deitado numa cama na cabana de palha próxima à cidade brasileira de Iguatemi, perto da fronteira com o Paraguai. Um Xamã sacudia um chocalho de madeira enquanto cantava e dançava – ritos finais para mais uma vítima de uma ‘epidemia’ de suicídios que tem atormentado os indígenas Guarani de Mato Grosso do Sul, estado da região Oeste do Brasil.

O menino Dedson Garcete havia se enforcado – um dos 36 suicídios entre os membros da etnia do início do ano a setembro de 2014 e um dos cerca de 500 desde 2004 entre os membros desse povo que tem 45.000 indivíduos no estado, de acordo com Zelik Trajber, um pediatra que trabalha junto à Secretaria Especial de Saúde Indígena, do Ministério da Saúde, em Mato Grosso do Sul.

Os povos indígenas sofrem o maior risco de suicídio entre grupos étnicos ou culturais em todo o mundo. Aborígenes australianos do Estreito, com idades de 25 a 29 anos, têm uma taxa de suicídio quatro vezes maior que a da população geral da Austrália nessa mesma faixa etária, de acordo com o Departamento de Saúde do país.

Nos EUA, o suicídio é a segunda principal causa de morte, atrás de acidentes, para os indígenas estadunidenses e nativos do Alasca entre 15 e 34 anos, e é duas vezes e meia maior do que a média nacional para essa faixa etária, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças

Entre os indígenas do Brasil, a taxa de suicídio foi seis vezes maior que a média nacional em 2013, de acordo com estudo divulgado em outubro pelo Ministério da Saúde. Isso significa 30 suicídios em 100.000 pessoas. Entre o Povo Guarani, maior etnia do Brasil, a taxa é estimada como mais de duas vezes maior que a média geral para os indígenas como um todo, segundo o estudo.

Na verdade, ela pode ser ainda maior. O Conselho Indigenista Missionário [Cimi] diz que houve mais de 70 suicídios em 2013, substancialmente mais que os 49 informados pelo Dr. Trajber.

Os Guaraní perderam seu território na terra fértil do sudoeste do Brasil: trechos de vastas florestas e savanas foram transformadas em fazendas e ranchos. No processo, os indígenas foram esbulhados e arrancados de seu modo de vida tradicional. Grande parte enfrenta extrema discriminação e vive em situação de miséria, perto dos fazendeiros e pecuaristas que ocupam a terra que já foi deles.

“Por viver nesse ‘não-lugar’, eles cometem suicídio”, disse Maria de Lourdes Beldi de Alcântara, antropóloga da Universidade de São Paulo que há anos vem estudando os suicídios entre os adolescentes Guarani.

Há quase 100 anos, os Guarani, que vivem hoje principalmente no Brasil e no Paraguai, foram expulsos de seus territórios ancestrais quando o governo brasileiro distribuiu entre fazendeiros e pecuaristas o título legal dessas terras. Os indígenas foram enfiados em reservas lotadas, frequentemente separando os membros da família.

Em 1988, o governo brasileiro promulgou uma nova Constituição que estabelece direitos para os povos indígenas. Entre eles, ela concede aos Guaraní e a outros povos indígenas o direito de reaver sua terra ancestral, num processo que tem sido lento e frustrante para ambos – indígenas e fazendeiros – e que os colocou ainda mais em desacordo.

Em muitos casos, os fazendeiros também vivem em Mato Grosso do Sul há gerações. Criaram suas famílias lá, trabalharam e lucraram com a terra, primeiro com o mate (uma espécie de chá) e mais tarde com a cana-de-açúcar e a soja. Como os Guarani, eles estão enraizados na terra, o que faz com que o conflito entre proprietários de terras e indígenas seja ao mesmo tempo cultural e material. Enquanto os indígenas encaram a reintegração de posse de sua terra ancestral como essencial para revitalizar suas tradições culturais e recuperar sua sensação de bem-viver, fazendeiros e agricultores vêm isso como um obstáculo para o progresso e desenvolvimento do Brasil.

James Anaya, Relator Especial das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas de 2008 a maio de 2014, disse que em todo o mundo os suicídios entre jovens indígenas são comuns, em situações em que os membros da comunidade vivenciaram uma reviravolta na sua cultura, conduzindo a uma perda da auto-estima e das próprias raízes.

No sudoeste do Brasil, diz ele, a angústia, a pobreza e a violência contra lideranças tribais têm levado os adolescentes Guarani ao desespero, ao sentirem que não têm futuro. “Eles veem tirar suas próprias vidas como uma opção, infelizmente”, disse ele.

Segundo a Professora Alcântara, ao longo dos últimos 10 anos os indígenas passaram a viver entre duas culturas – a da cidades próximas, onde são discriminados, e a de sua própria gente. Os jovens, principalmente, sentem que não pertencem nem à cidade, nem à ‘tribo’, disse ela.

Tonico Benites, Guarani e antropólogo, disse que, durante a ditadura brasileira dos anos 1970 e 80, as condições nas reservas Guaranis se deterioraram. Houve superlotação, e as famílias foram separadas. Hoje, a situação tornou-se ainda pior, disse ele, e muitos Guarani se sentem solitários e isolados.

“Em algum momento, muitas pessoas que eu conhecia, amigos, perderam sua autonomia, sua forma de se sustentarem,” disse ele. “Então, eles acabam pensando na morte.”

Fora da reserva, os Guarani sofreram preconceito extremo, ameaças e ainda pior, disse o Dr. Benites. “Aconteceu comigo três vezes, de eu estar esperando na beira da estrada, e um caminhão vir em alta velocidade na minha direção”, lembrou. “Eu tive que pular, caso contrário ele teria me atingido e matado… e depois eles diriam que era um acidente, mas não é.”

Ele afirmou que pistoleiros contratados por fazendeiros queimaram cabanas Guarani, torturaram seus amigos e mataram lideranças.

Anaya, professor de Direito na Universidade de Arizona, disse que acredita que melhorar os sistemas de ensino para os Guarani e outros grupos indígenas pode ajudar. “Precisamos de uma educação que não tente tirar das crianças indígenas a sua identidade, mas sim ajude a reforçá-la com todas as ferramentas atuais que são apropriadas para a vida moderna”, disse ele.

Ambos os lados querem uma solução pacífica, mas em pequenas aldeias Guarani em todo Mato Grosso do Sul, meninos como Dedson continuam a se entregar ao desespero.

“Nossa maior esperança, pela qual lutamos todos os dias”, disse o Dr. Benites, “é que nossos filhos possam ser mais felizes no futuro. Que um dia eles possam ter um outro tipo de vida, melhor.”

Charles Lyons é um jornalista multimídia e cineasta.
Tradução: Tania Pacheco. Original em inglês enviado por Isabel Carmi Trajber

Em vídeo, Jay Z fala sobre racismo

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O site All Hip Hop divulgou um vídeo com JAY Z, um dos rappers mais influentes da música norte-americana. O MC fala sobre as relações raciais nos EUA. De acordo com o site, “Hova disse que acredita que o racismo é ensinado em casa; no entanto, não é fácil  ensinar uma criança a odiar uma raça em particular quando o seu rapper favorito é afro-americano“.

[+] Saiba mais (em inglês)

Jay P: “A mudança vem de dentro”

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Se o papo atual é empreendedorismo, JAY P é um dos exemplos de luta do rap brasileiro. MC, designer autodidata, videomaker, Jay P inaugura sua nova fase em 2015 com muitos projetos musicais e a continuidade da POSSIBILITE, produtora independente que registrou o Quartz 2014, campeonato de DJ organizado por KL Jay, dos Racionais MCs . O artista já trabalhou na Casa 1, produtora conhecida na cena pelos vídeos da série RapBox e fez parcerias com Flow MC e Biritinho, em seu mais recente single chamado “Samisul”, e a banda Black Caesar, no início de sua carreira. Conheça mais sobre o trabalho e as ideias de Jay P na entrevista que o MC concedeu ao Bocada Forte.

Bocada Forte: Você atua em diferentes frentes que ligam audiovisual, rap e design. Fale um pouco de sua formação. O quanto se informar e estudar faz de você um artista diferenciado? Foi o rap que chegou em sua vida para unir e expor toda sua bagagem cultural?
Jay P:  Obrigado pelo convite, é uma honra ser entrevistado por um site “milianos” como o Bocada Forte. Comecei por baixo, onde todos devem começar. Trabalhei como panfleteiro, bicho de posto, frentista, garçom. Depois entrei no mundo publicitário, como assitente de direção, depois diretor de arte, diretor de criação, diretor de videos, editor, produtor. Segui até o exato momento onde estou, trabalhando com a minha própria idéia de empresa. Minha formação é extremamente autoditada nunca vi a necessidade de cursos ou afins depois da internet, nunca gostei de estudar, escola pra mim sempre foi osso, na internet você aprende o imaginar,  aprender. Comecei a mexer no Paint, Photoshop, fui do Windows Movie Maker até o After Effects, tudo é uma questão de interesse, e isso é o mais difícil de se despertar, onde se enxerga só obstáculo, não há solução. O Estudo pra mim sempre foi diário num sentido vivencial: vejo filmes, imagens, videos, escrevo, procuro trabalho de outras pessoas, tudo isso me faz entender que não existe ruim ou bom, mas sim a peculiaridade de cada artista, tudo é trampo. Independente do gosto de cada pessoa, o trabalho sempre deve ser respeitado. A palavra que mais refletiu respeito na minha vida se chama rap, nele aprendi a respeitar pra ser respeitado, o rap direciona minha vida até hoje, nunca me largou, rap é foda.

Bocada Forte: Seus primeiros sons e parcerias foram experimentações em home studio?
Jay P:
 Teve coisas em casa, outras em estúdio profissional. Minha brisa sempre foi fazer música, o rap foi onde me enxerguei, não sabia como fazer corretamente, o que era mixagem ou masterização. Fiz desde rap 90, remix de Jack Johnson, reggaeton com o Mocambo, de Curitiba, ragga, com o Ghetto I e o Kna-man, até desenrolar com os gringos no myspace. Na época do myspace era mais fácil desenrolar ideia, eram menos produtores e músicos, bem menos.

Bocada Forte: Seus primeiros registros autorais que estão no Soundcloud são paradas acústicas, com uma banda e rimas em inglês. Qual a razão desse formato?
Jay P:
 Eu “briso” no inglês como sonoridade, sempre gostei de filme, videogame. Até minha adolescência, a música sempre foi o rock, depois veio o rap, quando peguei umas letras do Tupac,  logo me identifiquei e filtrei essa idéia pro “meu rap”. Na real, ali tem trampo desde 2005 até 2014. De lá pra cá, foi ideia pra tudo que é canto com Rimativos, meus irmão de S.A., o 3 Pilares, Reis da Praça, Afrika Kidz Crew, Mesclando Rimas, com meu irmão de rimas Dirty Flow, hoje Flow MC, mas em 2009 eu me afastei do universo do rap, queria fazer mais do que já havia experimentado. Nessa época, estava trabalhando em agência, conheci os talentosos manos da Black Caesar, que são do Morumbi, então foi totalmente outro universo, fizemos a banda e rodamos até 2012. Ali entendi o funk, o soul e como direcionar a música, não só as rimas.

Bocada Forte: Levando em conta o variado leque temático do conjunto dos seus trabalhos, quais temas você acha que aborda de melhor forma, que tem mais desenvoltura entre beats, letras e flow?
Jay P:
Hoje em dia eu não tenho uma linha de raciocínio referente ao tema, eu já falei sobre muita coisa diferente enquanto eu escrevia inglês, mas ninguém entendia (risos), eu estou rimando em português faz 3 anos, preciso falar tudo que quero e isso vai bem longe. A minha desenvoltura se desenrola aonde eu “briso”, o beat fala primeiro, eu vou depois seguindo. O ritmo fala demais pra mim.

Bocada Forte: Desde seus primeiros trabalhos com pegada mais eletrônica, você mostra que está conectado ao que está sendo feito recentemente no rap internacional. Acha que consegue fazer essa mescla sonora e dar personalidade ao seu rap? É algo que você pensa, se preocupa, ou apenas produz sem maiores planejamentos?
Jay P: Referência, essa palavra pra mim é tão necessária quanto água. Eu vejo tudo que sai, independente da linha musical, isso faz minha inspiração vir de longe, sou um pessoa fissurada por detalhes, “briso” em escrever rimas como música sendo verso/passagem/pré-refrão/refrão, hoje treino dança e canto porque quero chegar pesado como se faz lá fora, a única nomenclatura lá é a de artista, onde não há medo ou limites, a preocupação com o que os outros pensam não existe. Aqui reside demais o medo de muita gente em fazer o que curte, porque todo mundo fala demais e pouco faz.

Bocada Forte: Fale sobre suas parcerias nos trabalhos posteriores. Como rolaram?
Jay P:
Quando deixei o vocal da banda Black Ceasar,  sobrevivi fazendo o que eu sabia: vídeo e design. Cansei da publicidade e procurei o CASA 1, onde já tinha gravado várias faixas. Junto com o Léo Cunha, vivi e aprendi coisa demais. Quando a gente fez o Rapbox, pude acompanhar 39 episódios, onde cada artista era uma ideia, um trampo, uma correria, foi surreal trabalhar com vários renomados da cena, fora fazer videoclipes, algo que se tornou uma parada foda depois do “Quartinho Obscuro”, do Flow MC, ali minha direção destravou. No final de 2013 sai do Casa 1. Estou no meu próprio mundo agora, fiz a “SAMISUL”, veio meu filho favorito, um ano de trabalho em cima de um som é muita ideia. O Bitrinho e o Flow são meus “parças”, nos encontramos depois de uns cinco anos e fizemos o que sabemos, que é largar rimas em cima de um beat monstro. Daqui pra frente é só estouro.

Bocada Forte: Qual fase do seu trabalho considera melhor?
Jay P: A atual, meu passado me trouxe até aqui, o amanhã só vai prosperar se hoje eu for mais do que fui ontem.

Bocada Forte: Você está preparando um novo trabalho? O que vem por aí?
Jay P:
  A POSSIBILITE, minha empresa independente começa a rodar, já tenho pessoas trabalhando comigo, interesse e procura de diferentes áreas a serem atendidos, quero fazer mais trabalho com mais pessoas, estamos no caminho certo e com trabalhos a serem lançados em 2015.  Na parte musical, vai ter muita doidera criativa minha, observei bastante tudo que me chamou atenção pra saber o que eu quero e como eu quero, isso é o mais difícil, tudo tem seu tempo.

Bocada Forte: Acredita que 2015 será um ano de melhores oportunidades para a cena, ampliando o alcance para outros artistas e estilos?
Jay P:
2015 é a peneira de 2014, vivemos na melhor época do universo, estamos conectados, temos exemplos fodas em todos os cantos e estilos, é só entender que o sobrenome do rap é trabalho. Tem uma rapa trabalhando bem, mas ninguém vê muito essa parte, ainda tem uns de chapéu achando que somos maconha e camarim.

Bocada Forte: Você acha que a necessidade de popularização do rap fez com que artistas deixassem de lado temas mais sérios para serem aceitos?
Jay P:
A necessidade só acontece quando existe a procura, o rap se modernizou porque o mundo se modernizou, pro bem ou pro mal a molecada do bullying e Iphone não tão afim de saber uma pá de fita e tudo bem. O rap dos 90 falou pra gente não fazer fita errada, a gente não fez, e a gente falou sobre outras coisas. Isso evolui pro “fale o que quiser e abraça quem quer”, já era. Ou evoluímos ou perecemos.

Bocada Forte: Já que tocou no “fale o que quiser”,  qual a sua opinião a respeito das declarações homofóbicas e machistas que são reproduzidas e, de certa forma, defendidas no nosso rap?
Jay P: Isso é ignorância funcional, eu vejo uma coisa diferente, logo não compreendo, portanto a excluo do meu ciclo e a bloqueio. Somos todos iguais e ponto, homem ou mulher, é penis e vagina o resto é igual, a diferença vem do resultado de vivências e isso se chama psicológico. No rap, o grande teste chegou. O Rico Dalassam é um mano que é preto, mora na periferia, faz rap e é gay. O que o rap fizer ou falar em cima disso, vai ser reflexo pra sociedade, portanto temos que ser melhores que uma opinião sobre uma definição inventada por nós mesmo. Paz sempre.

Bocada Forte: Acha que existe um discurso conservador sendo fortalecido no rap?
Jay P:
 Hoje em dia eu vejo muito mais sorrisos do que eu via quando comecei a rimar, acredito que a cada ano que passa esqueceremos o que quer dizer essa palavra e enxergar a liberdade como o único discurso.

Bocada Forte: Qual sua opinião sobre a atual cena política. Acredita que haverá mudanças? O povo está mais esperto?
Jay P:
 Política faz o sistema e o sistema é escroto, o mundo está na mão de poucos, esses fazem o mundo girar como querem, somos apenas marionetes, cabe a cada um cortar seus fios. A mudança vem de dentro, enquanto não paramos de ver TV todo dia, vivenciar as mesmas coisas e falarmos sobre as mesmas coisas todos os dias, nós nunca enxergaremos o outro lado da moeda. Essa eleição de 2014 foi um terror, todo mundo perdia a linha ao entrar nesse assunto, então é difícil você julgar a política do país quando a política pessoal fala mais alto. Simples, tenta explicar pra pessoa que ainda troca de lado da calçada quando vê um preto na rua o que é vir de um lar desestruturado, a pessoa vai falar: “ah, eu sei como é”, porque ela viu o “drama” na novela, mas nunca ficou sem ter o que comer um dia. Enquanto a gente não nos respeitar como ser humano, vai ser sempre essa papagaiada, culpa o partido e deixa de enxergar a situação do irmão ao lado.

Bocada Forte: As redes sociais colocam em evidência o discurso carregado de ódio, racismo, machismo etc. Acha que as pessoas não veem mais problema em mostrar que são preconceituosas?
Jay P:  A internet é o canal pro estrelato na eternidade da pessoa comum, as pessoas estão malucas já com essa parada, pra mim a internet é um meio de conhecimento, pra outros, uma forma de chamar atenção. Eu entendo muito a clássica do Morgan Freeman “Como acabamos com o preconceito? Não falando sobre ele”. Como eu atravesso um obstáculo? Eu pulo e sigo a minha caminhada.

Bocada Forte: Quando entrevistei o Cabal, fiz duas perguntas que não podiam passar batido. Mesmo sabendo que são pessoas e artistas bem diferentes, gostaria de repetí-las: em sua vida, quais portas foram abertas para você pelo fato de ser branco? Quais portas foram fechadas pelo mesmo fato?
Jay P: Se portas foram abertas por esse fato ou não, eu nunca me importei, sempre soube pisar “fofin” onde fui, eu sou o branco no meio dos pretos no rap, nos outro lugares eu sempre fui branco e sempre foi suave. Existe um puta preconceito com preto pelo qual sinto muito, na forma de respeito e compreensão disso, eu nunca me permiti se quer relevar o fato da minha cor em alguma situação na minha vida.

Bocada Forte: Tem acompanhado a discussão sobre apropriação cultural – principalmente no rap dos EUA? Como encara estes fatos? Poderia falar sobre isso?
Jay P:
A liberdade criativa sempre vai prevalecer numa discussão como essa, se no rap eu posso ouvir um clássico de Bach e querer samplear o mesmo, quem vai poder falar pra mim que aquela cultura não me pertence? Somos todos uma coisa só. Música, cultura, arte, é uma coisa só, ao longo dos anos fomos dando nomes pras coisas pela necessidade de criar uma “unidade de medida” pra tudo.

Bocada Forte: Acredita que o poder econômico do rap brasileiro pode chegar ao patamar dos EUA? Se sim, quais os pontos positivos dessa ascensão?
Jay P:
Claro! Vai ser gol! A economia dentro do Rap funciona como uma rotatividade, precisamos uns dos outros. O MC dá dinheiro pro estúdio, pra gráfica, faz o CD. Do show ele tira dinheiro, investe no clipe, identidade visual, foto, produtor, DJ, faz outro show. O mesmo ciclo se repete, nesse meio tempo, o MC  já deu dinheiro e trabalho pra varias pessoas, gerou o seu e correu para outro círculo. O caso do Emicida é o mais gangsta, o mano sentava na calçada do Santa Cruz e bebia chá, enquanto todo mundo bebia goró, hoje ele faz girar o rap dele, da maneira que ele “brisa”. Você fazer acontecer o que acredita do jeito que você imagina nunca vai ter pontos negativos, nem em 1 bilhão de anos.

Mixtape: DJ Gug Pinheiro, ‘Afro Trap’

10393809_10202971529288565_5171095701103436208_nÉ de Salvador, Bahia, que vem a novidade. DJ Gug Pinheiro apresenta sua mixtape com o “gravão” fundamental do estilo trap misturado aos sons africanos. O convite está feito. É apertar o play e começar a dançar.

Mixtape Afro Trap by Gug Pinheiro on Mixcloud

Rafuagi lança jornal independente

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Mais uma proposta de mídia alternativa está nascendo. Os integrantes do grupo RAFUAGI vão lançar neste próximo dia 15 de janeiro o jornal Parte do Ciclo, publicação focada no hip hop que terá tiragem de 20 mil exemplares. A distribuição será feita no Rio Grande do Sul e em diferentes regiões do país. Bob Controversista e Rapadura, entre outros, estão na primeira edição. Cortecertu, DJ e editor do Bocada Forte, vai participar de edições futuras.

10/01: Quilombo Hi-Fi e DJ Magrão

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DJ Magrão é membro da fundação da cultura sound system em SP , especialista em reggae foi integrante de Dubversão Sistema de Som, o primeiro no segmento na cidade. Hoje, Magrão integra a única equipe especializada em dancehall por esses lados, a FRESH CREW, responsável por um dos maiores e melhores bailes do gênero.

Serviço
Pico das Torres – Quilombo Hi-fi
Rua : 1 , Parque São Rafael – Jd. Santo André, São Mateus
Homem-R$ – 5,00
Mulher – free até as 00:00,após R$ 5,00

 

21/01: Sintonia – A festa

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Tradicional evento de rap de SP invade a cena do Rio de Janeiro

Criada em 2001 por Dj Kljay, a festa “Sintonia” nasceu do convite de Dj Gé Rodrigues e seu sócio Igor, para que Kl Jay tocasse no Dj Club, um sobrado com sótão na Alameda Franca em São Paulo, transformado em casa noturna.

O projeto prosperou! Kl Jay por 2 meses tocou sozinho, nas madrugadas de domingo para segunda, chamou seu irmão, o Dj Ajamu para ajudá-lo a comandar a festa, que foi transferida para as quartas feiras. O sucesso foi inevitável e a noticia dessa proeza foi cada vez mais chegando ao conhecimento das pessoas que gostavam do tipo de musica da festa, que não era ouvida nas outras casas noturnas.

Após 2 anos de noites bem sucedidas, o Dj Marco foi convidado para o elenco, trazendo outro repertório e consequentemente mais publico para a festa.
Noites lotadas, com temas especias, vários djs convidados, mc’s do mundo inteiro marcando presença – o Sintonia se consolidou como um ponto de encontro, uma segunda casa, um local onde as pessoas se encontram para ouvir musica de qualidade.

Em 2009, com o Sintonia operando às quintas feiras, Dj Will também foi contratado, fechando o time de 4 djs operando naquela que é chamada “A melhor festa do planeta”, que sempre se reinventa, recicla e prospera.

Serviço: Festa Sintonia
Local: Leviano Bar, (segundo andar) Rua Mem de Sá, 47, Lapa – Rio de Janeiro
Data: 21 de janeiro
Hora: 23:00
Preço: 15 na lista (até 1h)
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