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Rapper moçambicano Azaguaia interpretando um professor.

“Num raio de 200 km de distância, portanto não presencial mas aprendi mais com Nelson Triunfo do que com o próprio ensino fundamental.” Zap San.

Dia 15 de outubro é considerado simbolicamente como o Dia dos Professores. Quando falamos a palavra “professor” muitas coisas vem em mente, algumas negativas, relacionados a profissão como baixo salário, falta de estrutura e stress, e outras positivas como a lembrança daquela ou daquele professor que levamos na lembrança como uma pessoa que nos marcou de certa forma, um desses professores que me marcaram foi o professor hip hop.

O professor hip hop foi aquele que soube ser rígido, durante os anos 90 e boa parte do anos 2000 ele foi gangsta, contou histórias de vida e de morte, denunciou e mostrou a Matemática na Prática  e, nas aulas de Química, criou a Fórmula Mágica da Paz. Desafiou as leis da física a cada giro de cabeça e acrobacia da B-Girl e do B-Boy na estação de metrô São Bento e em cada lugar do Brasil. Nos trabalhos de educação artística registrou tags, bombs e uma variedade enorme do poder que um grafiteiro tem nas mãos usando os muros da cidade como caderno.

Foram professores com aulas distantes nas ondas das rádios, nas fitas, vinis e CDs e muitas vezes foram aulas presenciais em shows, na aula de língua portuguesa aprendemos o ABC do Preconceito e nas aulas de história já introduzia a Lei 10.639 (lei que obriga o ensino de história da África e cultura afro brasileira nas escolas). Muito antes disso virar lei, foi através das aulas com os professores Racionais MCs, D.M.N, entre outros, que muitos tiveram contato com nomes que marcaram nossa história, como Luther King, Zumbi, Dandara, dentre outros. Foi na aula de história que o professor KL Jay nos passou a real do “descobrimento do Brasil”.

Tivemos grandes professoras nesse movimento, como SharylaineRúbia Fraga, Dina Di, Nega Gizza entre outras, advertindo os manos que hip hop não é um universo exclusivo de homens como protagonistas.

Esse professor sempre convive com conflitos entre seus alunos, brigas e diss. Pra uns, movimento. Pra outros, cultura, ele não envelheceu, ganhou experiência e novos estilos e assim como todo professor de rede pública no Brasil é extremamente mal remunerado.

A cultura ou movimento hip hop foi e ainda é um professor na formação de muitos jovens das grandes periferias pelo Brasil e ainda tem um sentido de informação e formação. Quantos, como eu, não aprenderam quase de forma didática a cantar as músicas do Racionais MCs? Quantos não se questionaram quem era esse tal de Malcolm X, que os caras do rap tanto falam? Quem não aprendeu a ter orgulho da origem e da cor ao ouvir a mina ou cara com microfone num show lotado falar isso? Quem nunca achava ‘arte’ uma parada elitista e se sentiu numa exposição ao ver muros coloridos com desenhos e mensagens feitos por alguém da mesma origem que a sua? Nunca vi uma apresentação de balet russo, mas vi moinho de vento ao vivo e isso foi nossa arte.

Esse professor, chamado hip hop, nos fez questionar o porque sou enquadrado pela polícia? O por que só nós morremos? O por que o mundo é diferente Da Ponte Pra Cá. Pra muitos o hip hop não foi só o melhor professor e sim o único.

Parabéns aos professores e professoras, que fazem da sua profissão sua arte. Parabéns e obrigado a todos os professores que passaram pela minha vida e parabéns ao hip hop, que foi o professor fundamental na formação crítica e na elevação da autoestima de muitos na periferia!

Publicado por DJ Neew

Colaborador do Bocada Forte. É DJ, beatmaker, faz parte do coletivo Shuriken e do grupo Omnira.

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