No embalo do trailer do filme “Straight Outta Compton”, o Bocada Forte resgata material de arquivo sobre o N.W.A
A frase que dá título para esta matéria foi proferida por DJ Yella, do grupo N.W.A., no início dos anos 1990, época em que o rap brasileiro se firmava com um discurso político, periférico e com temática racial. Liderado por Eazy E (1963-1995), o N.W.A, um dos precursores do gangsta rap, tinha na sua formação mestres da rima como Ice Cube (rapper e ator), MC Ren e o talentoso Dr. Dre, um dos melhores produtores do rap norte-americano.
Em entrevista ao jornal Libération, os membros do N.W.A mostram os motivos que os colocaram no jogo do rap. As respostas de Eazy E e DJ Yella vão ao encontro do pensamento de muitos artistas da cena atual. Pode-se notar que o discurso que é repetido hoje no Brasil e em várias partes do mundo, já tinha bases firmes nos EUA (há mais de vinte anos). Abaixo, confira a íntegra da entrevista.
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O grupo mais controvertido do momento nos EUA são os Niggers Whith Attitude, ou N.W.A. (Pretos Com Atitude). O primeiro disco do grupo é “Straigth Outa Compton”, e sua música, “Fuck The Police” (Foda-se a Polícia) não poderia ser mais explícita. O N.W.A (Eric Easy E Wrigth, MC Ren, Dr. Dre, Ice Cube e DJ Yella) diz que expressa uma realidade, a de Compton, um gueto de Los Angeles. Antes de entrar para o N.W.A., Easy E roubava carros, assaltava casas e era pequeno traficante. Foi DJ Yella quem convenceu Easy E a se tornar um rapper.
Libération: O que levou vocês a formarem o N.W.A?
Eazy E: Contar uma história verídica, a história de como a gente vive. A vida em Compton, dura, violenta, perigosa. A gente vende drogas porque isso dá uma grana fácil e rápida, os quebra-paus entre as gangues são nosso divertimento. Você viu o filme “Colors”? É pior.
Libération: O que é que deixa vocês mais putos? Vocês ainda têm problemas?
Eazy E: A polícia. Quando ela te enche o saco sem motivo. De vez em quando temos problemas. Quando os tiras me reconhecem. Eles ficam com medo de um louco ouvir o disco e passar uma metralhadora neles.
Libération: A linguagem direta é uma provocação?
DJ Yella: A gente não usa nenhuma palavra nova (risos).
Libération: Quando vocês denunciam a situação vigente, vocês estão pensando em melhorar alguma coisa?
DJ Yella: A gente está pensando em ganhar dinheiro.
Libération: Vocês sentem alguma proximidade com um grupo como o Public Enemy?
Easy E: Eles são cool, mas eles não falam da mesma coisa que a gente. Eles estão numa viagem “Black Power”. A nossa é “foda-se todo mundo”.
Libération: Como é que vocês tratam as mulheres?
Easy E: Como elas querem ser tratadas.
Libération: Qual é a sua atitude?
Easy E: Não ter medo de dizer qualquer coisa, como “fuck the police”. No disco, falamos a palavra 208 vezes.
*Tradução: Clara Allain
Entrevista publicada em 30/01/2010
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